Revistas dos alunos do CSJ - Sampa 2005

Revistas dos alunos do CSJ - Sampa 2005
Revista produzidas pelos alunos durante o curso

Revista de Santo André

Revista de Santo André
Revista produzida pelos alunos

TS Consultoria e Escola de Idiomas

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Quer uma proposta pedagógica personalizada? Think, Speak!!!

Associação Nacional de Educadores

Associação Nacional de Educadores
A ANE é uma entidade sem fins lucrativos que apóia ações educativas que visem mudanças nos paradigmas da Educação Brasileira.

Missão

Somos a Escola de Projetos da TS Consultoria e Escola de Idiomas. Também somos um grupo de professores oriundos da Letras e Lingüística da Universidade de São Paulo - USP que quer mudar na prática algumas concepções de ensino atuais, principalmente quanto à orientação que temos em relação ao ensino-aprendizagem e a função da escola no Brasil. Propomos novas metodologias, didáticas e novas orientações pedagógicas: a escola como uma instituição de pesquisa, de desenvolvimento de projetos artísticos e tecnológicos que concretize o conhecimento em soluções e propostas sustentáveis e geradora de renda para o entorno, à comunidade e à sociedade. Atuamos como Consultores e Educadores engajados por mudanças, por políticas públicas adequadas, por mais verbas para a educação e por um ensino que contemple o que realmente precisamos: novas práticas escolares para um novo Brasil.


Equipe TS - Consultoria e Escola de Idiomas


Propostas desenvolvidas às Escolas Públicas e Privadas

- Palestra: “A Redação do ENEM e suas Competências e Critérios: porque o gênero dissertativoProf. Antônio Carlos C. de AraújoBacharelado e Licenciado em Letras pela USP, é consultor em educação e língua portuguesa da TS e professor de redação no Ensino Médio..

  • Público Alvo: Alunos do 3º. EM, professores e interessados
  • Turmas de 60 alunos
  • Espaço da Escola
  • Tempo de Duração: 1h e 30min

Requisitos

  • DataShow


Palestra: Mídia e Pesquisa: montando uma Revista Escolar como projeto interdisciplinar de ensino-aprendizagem”Prof. Alexandre César BorgesBacharelado e Licenciado em Letras pela USP, é consultor em educação e língua portuguesa pela TS, coordenador pedagógico da ANE – Associação Nacional de Educadores - e professor de redação do EM e EF.

  • Público Alvo: Corpo Docente, Coordenação e Direção
  • Turmas de 30 participantes
  • Espaço da Escola
  • Tempo de Duração: 1h e 40min

Requisitos:

  • DataShow


Curso de Produção de Textos para Vestibulares

Equipe composta de professores formados e licenciados em Linguística e Letras pela USP.

  • Vestibulandos e Interessados em Produção de Textos
  • Turmas de 30 alunos
  • Espaço da Escola

Extensivo

  • 120 horas total em 40 semanas

Semi-Extensivo

  • 60 horas total em 20 semanas

Intensivão

  • 48 horas total em 12 semanas

Material didático personalisado e incluso.


Material Didático para Ensino Médio na área de Línguas e Literaturas

  • Elaboramos material didático de acordo com as demandas da comunidade escolar e oferecemos consultoria para suporte dos professores e coordenadores.

Sob consulta de preço.

TS Consultoria e Escola de Idiomas

Apresentação

A TS Consultoria e Idiomas completa 20 anos aprimorando seus serviços devido à experiência e oferecendo os seguintes serviços para você:

Elaboração de Projetos - Elaboração de projetos sociais para ong e empresas que desejam promover uma formação humana, social e profissional condizente com a realidade que vivemos. Nossa equipe é experiente e desenvolvemos projetos pedagógicos personalizados e apropriados às regiões que carecem de propostas com qualidade.

Consultoria Textual para Empresas - Consultoria textual e produção de textos em diversas línguas para empresas ; cursos de aperfeiçoamento para funcionários em geral "in company": português, inglês, francês, alemão, italiano, espanhol e outras línguas.

Material Didático - Elaboramos material didático personalizado para sua escola. Temos todos os conteúdos de Ensino Fundamental, Médio e pré-vestibular disponíveis na forma de apostilas (segundo critérios estabelecidos pelos PCN e MEC). Bom, barato e adequado às demandas modernas de formação humana e profissional.

Cursos de Língua Estrangeira para Escolas Regulares - Inglês, Francês, Alemão, Italiano, Espanhol, Português e outras línguas.

Curso de Metodologias para Ensino de Línguas: novas propostas pedagógicas - Proposta de capacitação e desenvolvimento de projetos pedagógicos escolares nas áreas de línguas para professores e coordenação pedagógica.

Projeto de Leitura e Escrita - Proposta de estímulo à leitura e produção de texto na escola. O projeto foi premiado pela prefeitura de São Paulo, agora em 2007.

Projeto de Mídias Escolares - Escola Midiática - Formação para professores que visa o trabalho com jornal e revistas na escola como método para o curso de Língua Portuguesa transdisciplinar os conteúdos das outras áreas.

Cursos para Concursos Públicos - Os melhores professores e os melhores conteúdos e material didático na área de línguas.

Cursos de redação para a FUVEST e ENEM - Curso para pré-vestibulares com professores de redação uspianos. Quer passar na redação da FUVEST? É com a gente!!

Escolarização para Funcionários - Brasileiros que necessitam de diploma de EF e EM podem contar com a gente!! Temos uma equipe ótima e que trabalha com EJA.

Reforço Escolar Equipe de professores experientes que trabalha com aulas de reforço em todas as disciplinas.



Equipe TS

Canto da Literatura - Seção Prosa:

Os textos abaixo são de autoria do escritor, poeta e músico Alexandre Ranier de Castro Telles. Muito bom. Leia e divirta-se!!!

UZKT - 01/06/86


Foi visto duas vezes apenas. Uma vez a olho, e estava nu; outra vez à lente e fazia careta. Trajava roupa leve, contrário à sua consciência que logo lhe falará.
Passou pela plantação de laranjas do Sr. Asiocan e nem pediu-lhe uma. Roubou a fruta que lhe seria dada de bom grado.
Cheguei em casa e abri a geladeira. Coca-cola me sorriu tão beba, que obedeci.
UZKT já foi coisa boa, hoje anda fora de moda. Também, diz-se por aí que não existe esse modismo todo. Mas daqui pra frente você é Wrangler ou não. UZKT já foi palavra de força; hoje é só
lembrança.
Mudanças devem ser feitas pra melhor. UZKT não entendeu "evolução" e vai desafinar a orelha com a laranja do Sr. Asiocan.
Houve um tempo em que UZKT tinha amizade com o Sr. Asiocan, mas hoje em dia suas laranjas estão cheias de água podre, que o Sr. Asiocan produz com ganância.
Eu conheço o Sr. Asiocan, e ele me oferece laranjas de toda espécie. Só que eu lavo as mãos antes de chupá-las, o que tira todas as lâminas da sua língua. Laranjas não têm número nem são pretas, o que adia novamente a cerveja e a sinuca.
Sinto muito, UZKT. Acho que você deve voltar pro seu planeta. Voce nem mesmo dorme. Você foge, cagão.
- UZKT, você cresceu errado. Cresceu torto. Vai acabar virando uma laranja do Sr. Asiocan. E se isso acontecer, não trocarei mais códigos com você. Leia a Bíblia.
Ass: Monossacarídeo-céu (um terráqueo)

Cadecão - (23/06/86)

O menino descia a rua, que era de terra, e na curva avistou três cães:
O cão número 1 é ladrão; subia carregando uma picanha.
O cão número 2 é alienado; estava deitado no meio da rua.
O cão número 3 é dedo-duro; latia pro primeiro cão.
O primeiro cão passou pelo menino e abanou o rabo com cara de esperto.
O segundo não tirou a cara do chão.
O terceiro, vendo que ninguém lhe dava atenção, dirigiu seus latidos ao menino.
Ass: Y. Tatome
Se tudo se transforma, cadê os outros porcentos do nosso

cérebro? - 30/04/86

Nosso cérebro é pura energia, portanto temos mais energia na porcentagem do cérebro que não utilizamos. O animal não tem racionalidade, utiliza totalmente seu cérebro para os instintos; então quer dizer que 90% do nosso cérebro é nossa parte animal? E vamos poluindo, extinguindo espécies, "arranhando-céu", "aprimorando" o arsenal e nos artificializando... porque somos racionais?
Temos seis sentidos; os cinco que qualquer um sabe, e um sexto que pouca gente conhece. Tem gente que não sabe usar o paladar, o tato, ou qualquer um dos outros sentidos. O sexto sentido, menos gente ainda sabe!
O sexto sentido (que tem uma parte racional) está na porcentagem não utilizada do cérebro, e nos dá reações racionais - a auto-preservação acima de tudo. E estas reações estão ligadas a experiências racionais. Veja o caso da guerra: o homem constrói armas para se prevenir dela, pois sabe racionalmente das conseqüências da derrota. Ele sabe disso através da história - e nós vivemos a história.
Devemos é prestar mais atenção aos nossos instintos e utilizá-los racionalmente para a preservação da nossa espécie!

Ajeitação - 30/04/86

É, "sem-óculos"... outra vez. Mas você não me passou muito, a começar de "outra vez". Tô com Seis & Sete do meu lado, me dando o maior apoio. Aposto com você que não me afogo antes de chegar ao barco. E assim que chegar, jogo na água quem estiver lá dentro, e não deixo mais ninguém subir à bordo; pelo menos ninguém que possa afundá-lo.
Se o barco passou perto da sua praia no domingo, fique sabendo que ancorou na minha, segunda-feira.
Um abraço quatro-olhos, de quatro pupilas cada um.
Ass: Desconfiúda Careca (um torpedo)

Terceiro mundo - 16/03/86

O que é o primeiro mundo? É um lugar onde os prédios são mais altos, a poluição é mais concentrada, as armas são mais destrutivas, o PIB é maior e a distribuição mais desigual?
Nasci no terceiro mundo. O mundo da caatinga e dos pampas; da catira e do samba, do café e do babaçu. FALTA MAIS.
Dentro deste meu "terceiro mundo" existem pessoas... existe sabedoria e tradição FALTA MAIS.
e há uma modéstia alcançada pela vivência humilde de uma civilização hospitaleira e solícita.
Nasci e vivo no terceiro mundo. Terceiro, hein !?!?

Mel - 05/05/86

Assim como o destino da abelha é a colméia, o meu é a abelha rainha; cor-de-rosa e de canto livre, embala a ilusão do meu vôo em suas notas clave de dó.
Mesmo que não me diga nada doce me faz sentir feliz em poder contemplá-la. E sua ferroada é a razão do meu orgasmo.
Ass: Masoquelha Realúsica (o excesso)

Hoje - 12/03/86

Tudo que sempre quis
Ponte passado - futuro
\
este hífen
Meio-dia
Meia-noite
Não conheci
E assim vai a cabeça: lá e cá
Mas eu quero um hoje!
Onde está meu hoje?
Será que perdi?
A que labirinto levou-me o pensamento?
Que dia é hoje? Ontem? Amanhã?
Hoje é dia de viver o hoje!

Sereno - 26/05/86

É a abençoada chuva de inspiração que recebe o poeta, que espera paciente pela sabedoria.
Dorme coração e acorda braço, pensa estrela e anda lua. Procura o simples e a natureza. Impressiona-se facilmente mas não se abate. É livre e procura a liberdade. É amigo, mas não deixa de se apaixonar.
Canta, brinca e é criança.
Pensa, ama e é um homem.

Passagem para o Jabaquara - 25/05/86

Depois da subida o bêbado dormiu no carro. O astral tava empinado, camarada Mika estava "numas". Quis ver e estar legal, mas alguma coisa me atrapalhou - será que é ela?
Mas já sei a resposta. Cachorro que tem muito dono passa fome. Espero que quando ela descobrir isso, não seja tarde demais.
Honestidão, sinceridez e firmamento faz julgar todas as coisas. Mas, sabe, é...quando pinta numas, então pam...que é uma coisa boa, sabe, é...é...é um astral, sabe, então pum, cê fica pam, legal, sabe?
Nunca vou deixar de ficar impressionado com a falta de vocabulário.
Ó! Nóis te dão, sem satez e furtamento faz erradas todas as coisas. Quando Révi está: - Tchum, ts, ts, ts! Tum táqui dará dibi bum! - ele é naquele momento, o melhor baterista de todos os tempos. Pena que o ritmo alucinado e alucinante de sua batera só ele escute.
Quem socializou a caneta e o papel deveria ganhar um nobel da paz.
Nem a festa que correu 24 horas em Interlagos, nem a possível carona no desejo, puderam deter a animação, a velocidade e o desafio prazeroso da garatuja.
Lua dá a maior força, e minhas idéias são só minhas; os alimentos serão todos mastigados, e engolidos com perfeita consciência. A digestão jamais te trairá, a memória sim.
- Luquinha, tem que ser na hora! Louquinha tem que ser é na cama.
Êta Cézu não ganha mais êta, e já não é mais Cézu. Baladas adultas são somente adultas pro menino Telles; porisso saí de um lugar sem nenhum tchau, onde cheguei sem nenhum oi.
- Sorry, Francis.
De Asiocan e letra em dia, agora posso dormir - bater cartão de saída do ofício pensar, exercido no cargo de vivente.

De passagem - 26/09/88

Na estação de Campinas vi pessoas: um negão meio careca, tipo paxá sentadão no banco duro; uma mulher sentada de óculos escuros e mini-saia; um homem de boné mascando gengiva. Então passou um barbudo com mochila e outro com óculos escuros, fumando um cigarro. Entrou uma mulher metida, com a mão empoeirada, mas a saída continuava lá com grades altas de ferro torcido na ponta.
Às vezes o que mais nos grita: - Eu existo! é o que menos nos importa.
O que será de tanto telhado? E da solidão? Será que aquele casal de pombos jogou fora? Cada caminho no planeta é uma artéria em meu corpo. Tenho todas as lembranças e saudades.
O que será da minha memória se eu não continuar vendo o gado na beira da estrada e sentindo o cheiro de mato me dizendo: - Respire fundo!
O que será da minha solidão se eu não estiver perto de um rio, pisando descalço sua lama?
Tenho pensamentos e sentimentos bucólicos, e quero continuar vivendo atrás de uma memória. A única certeza é a de estar construindo uma saudade para o futuro.
Às vezes acho que vivo no futuro do pretérito; um tempo conjugado pela esperança.
E a viagem neste trem...dói.

Exercício de lógica - 02/03/88

Quando o nada encontra equilíbrio na razão, acontece a lógica. Quando a lógica acontece, tudo é verdadeiro. Isto não é mais matemático que dizer a uma pessoa que vai ensiná-la a pescar num rio sem peixes (como pode, um rio sem peixes?)
Não estou, lógico, provando uma teoria, mas talvez sendo provado por ela.
O que fazer quando Salvador Dalí morre, e um "ônibus" d'água atravessa a rua com o movimento de um arco-íris? O que será da inconsciência das pessoas, havendo pessoas? O ser humano será sempre seu próprio flagelo.
Não posso dizer que um coro de anjos é mais bonito que o coral da igreja; nunca ouvi um anjo. Êta terra de gente "racional", planetinha longe da lógica. Nunca pretender talvez tivesse sentido, se houver sentido em se afirmar que morrer é bom pra saúde.
Pureza não é sinônimo de ingenuidade, enquanto uma consciência que busca a perfeição não implica em religiosidade; tem gente sem aplicação na Consciência Criadora, que não pensa com vontade de justiça.
A vontade de se ter certa "garantia", às vezes ofusca a qualidade da compra; o produto sim, este não presta, e o preço é alto; um homem deve pactuar consigo o valor do pódium, e não se ferir na disputa.
A razão sempre ditará a palavra paciência.
Quando a estrada se ramifica muito é melhor ir mais devagar pra não pegar caminho errado, pois parar é impossível; muito me falta para ser um destes homo sapiens que alisam o próprio ego como se fossem recém-nascidos "beijando" um mamilo.
A loucura da humanidade não tem nada com o irreversível processo de massificação, mas com sua estupidez e egoísmo, mesmo; louco não é doente. A sociedade é doente. Insana. Sentimentalmente insana.

OFFATO - 24/01/89

Peguei uma gripe danada,
espirrei até os lábios arroxearem.
Comprimido não presta.
Comprimido não dá.
Não sinto mais o cheiro das coisas,
nem quero comer mais nada.
Xarope não presta.
Xarope não dá.
Meu nariz é delicado,
só que cresceu, cresceu, cresceu.

Natal - 24/12/85

Todas as cores
com cheiro de fantasia
Todos os sons
com cheiro de fantasia
Todas as fantasias
com cheiro de realidade

Imagens - 28/04/86

Imagens são fragmentos de vida, ou a vida inteira em retalhos - onde cada um é uma vida. São óticas mas não são ilusões; são versões realistas do que se pensa do mundo - onde muito se vê e pouco se pensa. São emoções sensacionalistas que se armazenam no polissílabo cerebral.
Recebemos de forma involuntária, decidida e radical em nosso dia-e-noite. No entanto dizemos sim, não, é, só, tá... E o orgulhoso e firme sim? E o comprometedor e responsável não? Por que não um desavergonhado e sincero sou? Não se aflija, irmão. Todos têm de decidir cedo ou tarde, qualquer coisa
que diz respeito a qualquer e a coisas.
Imagens estão para o homem como a linha para o tecido. E qualquer agulha sabe disso!
Mesmo que você não enxergue, faça uma imagem e aprenda com ela. Deixe sua agulha funcionar.
Seja!

Quero uma clave de dó - 06/05/86

Será que não posso ter uma clave de dó?
Enquanto procurar o cheiro do inodoro, pegar o intocável e ouvir o inaudível, serei uma pessoa triste.
Os picos das montanhas têm bandeirinhas e pegadas. A lua as tem! E eu quero ter esta clave de dó que me beija, abraça e metrifica meu som.
- Quero ser seu alpinista, ó montanha de som!
- Quero que seja meu atelier, ó moldura de inspiração!
- Musa, você é meu pincel
- Poesia, você é minha pena!
- Música, você é minha partitura!
Quero você, e quero que você entenda isso. E que acredite no que digo.
Ninguém "fabrica" nada, tá tudo aí no ar. É só captar e traduzir. De você só consigo captar amor e traduzir o despertar; despertou-me de um sono involuntário para um amor mai expontâneo que o vulcão.
Ass: Musiquista Sem Freio (um muro pra pixar)
Realístico amor que não se sabe até onde é platônico.

De um poeta por uma clave de dó - 28/04/86

A lassidão em que me encontro não deixa que a chuva me incomode, nem o mal cheiro do mendigo ao meu lado. O outono veio frio e ventarolando canções afrodisíacas na minha cara. Aí, no meio da música veio uma clave de dó. Me deu um nó. Pensei que não estava mais só, mas me deu um nó e rima cagada.
Mas eu vou entrar nesse som e te dar uma cantada desbundante. E vou te falar umas coisas burras pra melar seu ouvido e sua calcinha. Qualquer defeito seu, pra mim foda-se. Talvez não existam qualidades do lado de dentro da atmosfera.
Mas sabe, realismo não tem de ser feio (eu não consigo ver feias as coisas); pode ser no mínimo, a nota mais docemusical da serenata que vou cantar pra você num dia que não marcamos. Aí lá vou eu de novo arrebentando as cordas do violão, realista ansioso, poética e pateticamente viajando no seu som.
Não quero mais saber. Vou usar todas as fusas pra te cantar, mesmo que a melhor seja sustenida. E pra te tocar, meu violão.
Talvez eu até escorregue num ré, dum reggae que outono soprou. Mas se eu escorregar, quero cair de bunda no chão cheio de folhas que outono derrubou... e ficar sentado, admirado, ouvindo seu misterioso som, clave de dó.

Obrigado Senhor - 28/07/86

Senhor, quero agradecer!
Minha vida e a própria vida; o livre arbítrio e a consciência.
Quero agradecer, Senhor, pela minha saúde e pela saúde de todos que a tem.
Obrigado, Senhor, por mais um dia que passou e por outro que virá. Pela esperança, pela fé e pelo amor. Agradeço os amigos que me foram dados, e os pais a quem fui dado. Obrigado pelas chances que tive, aproveitadas ou não. Sou sempre grato pela vida que tenho, pois amo a vida, vivo para amar e amo para viver.
Obrigado pelos parentes e amigos que tenho, e pelos inimigos que porventura possam surgir; razão de crescimento no amor e na fé.
Abençoa, Senhor, os homens e os outro seres. Tire a dor, a angústia e qualquer sofrimento e sentimento ruim, que não raro contaminam o planeta. Dê a todos a sua paz e o seu amor. Abra o coração das pessoas, para que nelas possam entrar a justiça e a esperança. Conforte os fracos e dê humildade e
altruísmo aos fortes.
Obrigado, Senhor, por eu ter tantas pequenas coisas a agradecer, e não tantas mas também pequenas, a pedir. Deixe essas pequenas coisas continuarem sendo tantas, que eu não sinta falta de outras, tão pequenas.
Ilumine os homens para que salvem as criaturas da natureza da extinção.
Muito obrigado, meu Deus.

O ganso e o algodão doce - 28/08/87

Eu vi um ganso com um copo de sangue de cadela na mão. Ele era esquizofrênico e assobiava a marcha nupcial. Estava sentado na água do lago, com uma garrafa de água com terra do lado.
Assisti seus movimentos, sentado numa caixa de marimbondos no alto da roseira.
Ele começou a criar pêlos no bico, enquanto suas penas caíam. Levantou-se e chutou a garrafa, que ao se quebrar emitiu sons de violino. Totalmente sem penas, com focinho de cachorro e membro de gente, começou a comer os cacos da garrafa. A cada mastigada, saíam dezessete morcegos com cara de gente
de dentro da marimbondeira em que eu estava sentado.
Fiquei impaciente, pois nada saía da rotina. Foi então que senti tremenda compaixão pelas setecentas e trinta e duas mulheres que vi lambendo a vitrine de uma loja no Shopping Center.
Eu não acho nada. Tenho plena certeza.
Mesmo que você procure cuspir no carpete do gerente do banco, continuará a passar em frente à farmácia. E como é de conhecimento geral, não há lugar melhor para se comer algodão doce com recheio de amendoim e beber lágrimas de hiena.

Segredo - 07/10/85

Impludo com um frio na barriga, quando te vejo.
Vou de ilha em ilha, num mar de sentimentos,
torcendo para que o tubarão me pegue
antes de te encontrar.
Sua ilha é tão solitária quanto a minha.
Minha solidão não me preocupa tanto
quanto a sua.
Às vezes você "click"...
na minha frente
e eu me sinto indefeso,
como rei de tabuleiro onde você joga xadrez.
Então desvio os olhos, mudo de assunto
e desvio os olhos mudos de assunto.
Torno a adiar nosso encontro.
Você é tão forte que tenho medo;
é tão fraca que me compadece.
Você é tão grande que às vezes nem te vejo,
e se faz tão pequena que me assusta.
Você me embala, atrapalha e despreza.
Não raro me chuta, ajuda e me ama.
Você (menina, mulher, carinho e desejo)
brinca com minha inspiração e minha rima;
Onde quero o éter,
você me dá Ester.

A um amigo bom de bola - 19/12/85

Arredonda a menina e, de cabeça erguida analisa o meio-campo.
Faz um lançamento em profundidade e prende a respiração. A jogada deu certo (mais uma vez).
Passa a bola "no pezinho" quando já driblou o suficiente. Treze gols de placa em cada jogo. Conhece minhas jogadas e eu conheço as dele.
É sempre bom amigo, dentro e fora do campo. Juntos, ensinamos os reservas inexperientes.
O juiz sempre nos persegue. E nós o driblamos com suas regras. A torcida fica encantada e às vezes invade o campo.
Sempre treinamos horas e horas, no coletivo ou individual.
Não passamos bola pra "perna de pau".
Jogamos sempre na certeza de gritar: GOOOLLL!!!
Domingo no parque
Domingo é dia de passeio
no parque do pau podre
que bóia nas lágrimas
que não consigo evitar no dia seguinte.
Domingo,
no dia seguinte é um dia alagado
pela saudade que domina meu corpo úmido.
Domingo é dias das águas:
de côco
do parque
da represa
e da emoção que do meu sol escorre.
Domingo seria apenas mais um dia da semana
se não fosse seu colo na grama do parque
se não tivesse ouvido você me chamando de amor
se eu não estivesse apaixonado.
- Segundafeirinha fidumaputa!
Domingo na lama
Domingo é dia de tombo
na poltrona vermelha
onde segurei as lágrimas
que não consigo evitar no dia seguinte
Domingo,
no dia seguinte é um dia alagado
pela perda que insiste em me perseguir
Domingo é dia de revelações:
de uma mentira
de um aborto
de um fim
e da tristeza que do meu sol escorre.
Domingo seria apenas mais um dia feliz
se não fosse seu anel de descompromisso
se não tivesse ouvido você me dizendo adeus
se não tivesse dado com a cara na lama.
- Segundafeirinha fidumaputa!

Carta - 04/02/86

Recebi um sopro de primavera numa carta, mas o verão tá me esquentando do lado errado. Minhas folhas estão caindo, pois fui plantado em solo impróprio. E sonho com um inverno feliz.
Espero que no próximo salto meu para-quedas se abra.
Consegui não conseguir conjugar ser/estar com o tempo (pena que não é gramatical). E o tempo que pra mim é um só, torna-se muito extenso para se associar a um espaço.
Então pego carona numa bolinha de sabão, viajando sem pretender espaço, com o tempo contado.
E na eternidade das cores a bolinha vai eclodir; vai surgir mais gente por aí, que deixa solta sua parte feliz.
Às vezes tudo torna-se tão óbvio, que todo e qualquer desafio perde a graça - isto sempre acontece antes de se descobrir que não se sabe nada.

Corre-corre - 17/09/85

Estou correndo ao contrário dos leais adversários. Tão adversários que me deixam viver; tão leais que
não me impedem de morrer.
Mas esta corrida é tão curta,
tão vazia,
tão séria,
que ninguém reparou que corre em círculos,
que atropelou alguém,
que não há bandeirada.
Ninguém reparou afinal,
que é a corrida para o nada.

Coisa - 18/01/92

Alguma coisa disparou
- na minha cabeça;
- no meu país;
- no sistem solar.
Aconteceu alguma coisa, que já foi explodida e propagada.
É uma coisa que ninguém pode deter, nem minha cabeça pode se abster.
Aconteceu que, se eu fosse algum copérnico joanamente observado pelo fogo, o sistema seria "nicoleur"
e não existiria água.
O que mais? Ninguém leria isto.

Noite clara - 18/01/92

Sou o noivo da lua, mesmo beijando a poesia. Mando beijos à lua, abraçando a poesia.
Sou a noite, por ela atingido (como um guarda-chuva furado), pensando no amor que realmente existe, como uma pessoa a dar conselhos. Sim, amor é mais que sentimento, pois sentimentos nós os possuímos; já o amor, este é que me possui.
A mim, que sou apenas uma noite quente e escura, o amor permitiu a poesia, a melodia, e qualquer metáfora que complete minha razão.
À lua foi permitido correr o céu, a vazar-me todo mês, fazendo de mim uma lágrima de seu choro de útero.
À poesia restou o anonimato e a distância, já que eu e a lua só pensamos em mim.

Obsceno - 29/02/88

O obsceno da palavra...
é tão doce quanto a intimidade do platonismo,
e tão rude quanto o querer.
É tão humilde quanto estar apaixonado.
O obsceno dá palavra!
Carinho, desejo, tesão,
abraço, beijo, penetração.
O obsceno é doce, rude, paixão.
Fácil e complicado, simples e difícil,
o obsceno é menos ofensivo que o desejo em duas versões:
o amor, e eu te amo.

Beleza negra - 06/05/86

Tem os ombros acima da gola,
sem alcançar o pescoço e sem arrogância.
- Tem porte!
Seu brinco contrasta,
juntamente com o branco da roupa...
que capacidade de seduzir!
Camufla-se na noite,
aparece no meu sonho,
e marca meu seis de maio.
Ass: Sem cor, admirado

Mudança - 10/02/88

Não sou mais!
Nem menos.
Apenas me cansei dos meus sonhos, fantastiacamente reais
e enfadonhos; tão doces que o puto do Platão
amaldiçoaria minha existência...
ou pelo menos me diria: - Que azar!
E eu responderia:
- Vá se foder, filho da puta! Agora eu sou só um coração;
sou um perfeito argumento de Karl Marx.

Sou feliz - 10/10/86

Felizes são essas pessoas que fazem zum-zum-zum; parece me deixar mais longe.
Felizes são essas mesas e cadeiras, e paredes carregadas de zum-zum-zum.
Felizes, reclamando da vida, fazendo planos, lembrando fatos, concentradas e vazias.
Felizes, pois têm vida simples e a cabeça onde estão.
E eu, de cabeça zoom, numa mesa de cachaça, disperso e cheio de zumplano. Concentrado em fatos e longe, bem longe... dentro de mim e da vida.
De bem com as dívidas, ao lado de dúvidas e longe de réplicas, com respostas e súplicas que são simples como as métricas, de poesias e fatos, de zum-zum-zum e bonança, de zoom e esperança.
A chuva que me lava diz: - Nada sabes! E o ar que respiro me diz: - Tudo podes!
Saio andando na chuva sem franzir a testa e respirando fundo, poi o homem nada sabe e tudo pode.
E TEM CORAGEM DE TER MEDO!
Sou um homem! Comum e de cabeça zoom, que também solta pum, mas NÃO TENHO MEDO
DE TER CORAGEM!
Feliz sou eu que, ouvindo este zum-zum-zum, estou sempre a voar além da altitude que imagino.
Estar vivo já me dá prazer suficiente pra querer continuar vivendo.
Ass: Pequeno Vento, o espalha-chuva destemido

Paradoxal - 15/08/90

Livre
de estar pensando em você e te querer
perto de mim
é prisão do meu ser,
coisa ruim,
contrário do que tive.
Preso na liberdade
de me dar ao momento,
estou solto pelo tempo,
dentro da saudade.
Feliz por um passado
de tão puro sentimento,
arrasado
por não menos puro tormento
Triste ao lembrar
de um futuro vazio
sem chance, sorrio
num relance de amar
e choro.

Barco e Balão - 15/08/90

Meu barco não sobe a correnteza,
não afunda nem me joga n'água.
De costas pra nascente, a certeza
que este rio me afoga na mágoa.
Meu balão não voa contra o vento,
não cai nem me joga no chão.
Meu balão leva meu pensamento,
e seu lastro é o meu coração.

Retorno - 05/01/92

A grande estrela cruzou novamente o céu, dizendo o quão imperfeito sou na minha imperfeição de amar.
Por mim você nem sabe o que fez.
Pra mim era só inspiração.
Pra mim você já sabe a canção.
Por mim o mundo pode descansar.
Enquanto reaprendo a amar e te espero, beijando sua foto até quase apagá-la.

Imnocentti - 09/05/88

O M que mmaliciosamente se apresenta, não é mmaior que a mmaldade que se assenta, nem mmenor que a pergunta a responder.
Imnocência é a acusação que me faço, por sofrer com um não inesperado. O compasso ficou ao ritmo da$ nota$, apesar de às vezes pensar com o cérebro.
O mmais burro e mmais feliz dos proletários não tem sede de consumo dos salários; quanto mmaior a imnocência, mmaior a labuta servil. Nem sempre o que mmais pensa mmanda...
Predadoramente caçador da amnésia, o estômago é o mmais bem armmado. A cega balança advocatícia enxerga tudo o que convém - nada mmais convincente e conveniente que o capital.
E o balão voa alto, cada vez mmais. Dirige-se a algum lugar, cada vez mmais não se sabe pra onde.
Chega a brilhar como um astro, mas seu condutor é o próprio lastro.

Circo - 05/03/88

Sou apenas um velho circo,
tenho o equilíbrio do trapézio.
Sou de um leão fechado ao cerco,
ao estalo do chicote e seu mistério.
Sou apenas uma lona velha,
tenho os trejeitos do palhaço.
Ponho nesta lona uma centelha
de que venha algum dia a ser um astro.
Vivo desta forma porque quero,
tirando dda cartola a esperança.
Sofro, sou feliz e me espero;
sou alegre, sempre choro e sou a dança.
Danço onde não tem sanfoneiro,
canto onde não tem trovador.
Pulo onde não tem picadeiro,
domando com sorriso minha dor.
Sou, em bom proveito, uma alegria,
invento em pouco tempo meu amor.
Jogo vinte facas na bilheteria,
mas sou alvo deste franco atirador.

A praia - 27/02/85

Colei o ouvido na concha para ouvir sua voz, mas as crianças que brincavam na areia, fazendo castelos e gritando, não me deixaram ouví-la.
Apertei a concha contra o ouvido e as crianças se esqueceram do mar. Olharam para o céu e viram uma enorme concha descendo à Terra, como o Sol despencando de seu trono.
A concha parecia maior a cada segundo. Como era tão enorme, começou a engolir a Terra. Ficou tudo escuro e as crianças gritavam apavoradas.
De repente o céu ficou vermelho. As crianças, agora mudas, ajoelharam-se e apoiaram as mãos na cabeça com os dedos entrelaçados. Tinham o olhar ativo, observando cada movimento e cada tonalidade que mudava no céu. Parecia que estavam no interior de uma bolha de sabão, onde todas as cores passavam disformes e velozes.
Uma voz chegou aos seus ouvidos, vinda de todos os lados:
- A velha palavra amor está chegando. Preparem-se para recebê-la.
Os meninos puseram-se de pé e as meninas levitaram sobre suas cabeças. Tinham expressão que incomodava, de tanta calma. Pairavam sobre as cabeças dos meninos, quando um ser totalmente coberto de pêlos atravessou a praia correndo. Quando abriram as pernas, os meninos foram abruptamente aspirados pelos seus úteros azuis, como se fossem fumaça.
Em seguida elas derreteram-se, fundindo-se e virando uma única massa multicolorida com formato de bola. Esta bola adquiriu movimento de rotação acelerado e começou a se deslocar com extrema facilidade pelo céu, agora totalmente branco e imóvel.
Três gaivotas pousaram numa enorme concha que estava na praia. A bola colorida agora era uma bola de fogo e pairou sobre a gaivota do meio, que era você.
Você falou comigo com voz tão mansa que adormeci. A concha caiu da minha mão, o fogo se apagou e as crianças nasceram sorrindo.

Acredite - 14/01/86

Não sei por que tanto desejo, nem por que quero o infinito e eterno. Não sei das coisas que criam o amor, mas sei das coisas que o amor cria. Sei sim, porque amo. Amo, e com tamanha intensidade, que o objeto deste amor não é capaz de medí-lo. Talvez um dia sofra, pois faz sofrer e sabe disso.
Enquanto mata minha ansiedade, traz as mais fortes e vivas esperanças. Não me deixa esquecer o passado, nem me mostra um futuro. Mas um dia, quando a nuvem de dúvidas se dissipar, será fácil ver a imensidão da verdade; não será difícil perceber que ela sempre esteve ali.
Um dia, quando isso acontecer, o tempo não mais servirá de álibi ao descrédito.

Val - 15/05/85

Flor angelical do meu jardim
Bambuzinho d'água do meu lago
Firmeza do meu querer

Desatenção - 15/05/85

Seus pensamentos foram subitamente tomados por uma presença à sua frente. Levantou os olhos do livro e por alguns instantes só pôde pensar em como aquela criatura teria surgido ali. De onde teria vindo? - pensou.
Olhou então ao redor como se procurasse alguém. Onde estaria o dono daquela raridade de olhos verdes?
Voltou ao livro, mas não conseguia ler. Não podia deixar de notar a presença daquela crina castanhoclara
e daqueles inocentes olhos verdes. Olhou-a novamente, notando seu bronzeado canela, com pelos aloirados. Um quadril firme desses - pensou - deve ser de forte linhagem.
Quando viu em seus olhos um certo ar de aflição, de quem está perdida, pensou que ela o procurava.
E continuava ali, parada, olhando pra ele.
- Você pode me informar onde tem um telefone público? - perguntou ela com voz suave e firme.
- Pra quer você quer um? Burro não fala - respondeu ele indignado. Olha que coisa, estou falando com você!
- Você é estúpido e péssimo observador - disse ela mais indignada ainda - não vê que não sou um burro? Sou um mula!
E a jumentinha (ou mula, como ela disse) subiu lenta, a rua cascalhada. Coitadinha. Deve ter se perdido do dono.

Sala VIP - mês 12/85

O caminhão transporta-coisa já subiu.
Levou dezenas de povos à revolução.
Deu carona pra quem quis e atropelou quem não quis.
Sala VIP não! Sala VIP não!
Será que vou morrer atropelado ou vou pro céu?
Tantão, bacaninha! Ããããnnn? Tantão, bacaninha! Ããããnnn?
Nada consta? Nada consta?
Nóis tá tudo mente sã!
Ás o livre!
Rã mini rá!

Garçom - 15/06/85

Não sei se Madeira era seu sobrenome ou apelido. Na verdade era um nó de pinho. Não por ser rude, áspero ou insensível; era determinado, único e prático. Nó de pinho, não por ser duro, mas constante e estável.
Madeira era como um grão de areia numa praia; era garçom de um barzinho em São Paulo. E há tantos grãos diferentes, cada qual com sua história, algumas tão bonitas. E que conhecem outros grãos, vindos de outras praias...

Gostaria - 08/01/92

Gostaria de escrever uma canção que falasse sobre o inevitável fim, sem esconder a beleza do começo; de não sentir parte de mim se desmanchando em lágrimas, enquanto outra parte aguarda intransigente.
Gostaria que um manto de amor cobrisse todas as pessoas de maneira a me deixar anônimo, no meio dessa grandeza; que as coisas não tivessem sido Shakespeareanamente desfavoráveis, e eu não escrevesse isto.
Gostaria de não ter um coração tão deslacrimejadamente sofrido, amar displicente e sem reservas, tornando as coisas menos ásperas e finitas.
Odiaria não ter vivido tudo que sonhei, estando a seu lado.

Eu passarinho - 30/12/91

Olhe aquela árvore onde estivemos escondidos do sol, e tente se lembrar de quando não tínhamos asas, nem nos olhávamos com tão intenso desejo (eu não consigo!).
Ainda estou lá, escondido da solidão. Venha me procurar e ouvir meu canto, que é só seu. Olhe bem. Lá estou eu. Bem lá em cima, lá no alto. Vê?
Estou sempre cantando pra você, mesmo que não tenha voz. Pois é, eu nunca estive na sombra.
E o sol dos meus olhos apenas reflete sua luz, razão do meu vôo.

Solto - 23/05/88

Não sei quem passou merda na maçaneta e apagou a luz.
Não sei quem acorrentou sua bicicleta
e jogou a chave do cadeado na privada.
Você não sabe que eu já dei com a cara na bosta,
nem tinha cadeado para minha boca.
E andava por aí, solto...

Tempo - 29/08/87

O passar do tempo existe em função do querer. Quero ver o tempo passar pra matar meu desejo.
Estive mergulhado onde muita gente morre, só pra viver um pouco. Depois saí pra morrer onde muita gente vive; estive mergulhado em meus próprios pensamentos.
Estive amarrado onde muita gente corre, só pra não ser um louco. Depois saí pra correr onde muita gente enlouquece; estive amarrado em meus próprios sentimentos.

Ponto de ônibus - 29/08/87

Se aquele cachorro tivesse dito que o sinal abriria, eu teria pedido ao grilo que uivasse mais forte.
Fiquei só observando a queda dos dentes da borboleta preta e verde que corria preocupada atrás do ônibus. Coitada, não viu que o sinal fechou e que no Brasil não tem pingüim. Logo percebi, pelo seu sotaque, que ela não era daqui.
Quando eu tiver um machado de borracha vou derrubar a árvore de lâmpadas. Então o grilo voltará a pintar borboletas verde e preta na testa de cada um.
Eu queria ter uma xícara de chocolate quente, para esquentar a orelha do pobre infeliz cachorro que não sabe falar e usa jaqueta azul.
Se todas as pedras olhassem pra cima, o sol se envergonharia; não há justiça no relógio, nem espuma nas solas dos sapatos dos meninos que moram na árvore.
E aquele trem, ouvi dizer que descarrilhou. Mas se isso fosse verdade não existiria nenhuma espécie de peixe que sai da água durante a noite, pra se secar e cantar uma canção trigonométrica.
Tomara que o fogo que sai do nariz da mulher dona do chapéu, esquente o joelho da menina que usa mini-saia azul e bebe rum pela orelha. Só assim poderei dormir sentado nesta barra de gelo, e conversar com a linda faixa branca que me olha o tempo todo.

É possível - 01/03/85

Através de uma mente que pulsa bondade e de um coração que pensa amor, é possível sentir o cheiro da flor. É possível acabar com a maldade.
Sentir a energia do ser humano deve ser a meta de norte a sul, pois não estamos limitados a este plano, e o céu é um enorme útero azul.
Uma transfusão de sangue pode ser a saída deste planeta. Talvez o que precisemos fazer seja mandar foguetes pro ar, e transformar os mares num tanque de água preta.
A abençoada pólvora é mediadora eficaz. A vida do outro só tem valor quando não nos traz a morte (e a pior morte é o medo). A energia nuclear é dona da nossa sorte, combatida por poucos, os loucos amantes da paz.
Por que a desconfiança, o medo, o ódio, a insegurança, se somos todos seres inteligentes em busca da paz e da razão? Por que fechar os olhos, desviar, passar por cima, se é tão fácil dar a mão?
Se você tem um sono tranqüilo, parabéns pela sua consciência. Os muitos que estão perdidos, comprando saúde e vendendo tumores, já não devem ser ouvidos; eles não falam com coerência.
A justiça da lei está no respeito e não no medo. Dono da situação o homem diz: - ao diabo! ... e seu filho diz: - meu Deus!
- Senhores "donos do mundo", os sonhos da próxima geração não serão menores que os seus!
É hora de união para se gritar liberdade e vida. De mãos dadas gritemos paz. Protejamos nossa querida mãe-Terra. A cegueira do poder, a ilusão de progresso e a paz justificando a guerra, força nossa geração a se levantar contra uma era vencida.
- Não é preciso que haja guerras; a construção da bomba já é uma derrota!
E o homem quer dominar por ter medo de ser dominado. Escraviza seu semelhante através do medo, de quem é escravo.
Antes ser um louco amante da paz, que um paranóico fabricante da discórdia. Antes ser um maluco ser pensante, da natureza um amante, que um estudioso inventor da destruição.

Eu passarinho - 19/11/85

E lá estava o passarinho tão bonito (na gaiola)
Cantando e pulando como louco (na gaiola)
Semente redonda no alpiste? Painço?
- Não! Desejo de liberdade.
Mão de menino curioso que me tire da gaiola.
Canto, pulo, e já estou louco.
Merda de vaca no cigarro? Merda?
- Não! Caretice que me amola.
Eta menino bunda-mole que não vem!
Tô feliz, mas de teimoso.
Quer comprar minha cidade? Quer uma tatuagem?
- Não! Merda, alpiste e liberdade.
Menino veio terde, quase homem.
Com uma mão sem dedos e a outra sem o braço.
Posso cantar e pular? Posso... talvez, te amar?
- Sim, pois a lei é nossa.
Menino e passarinho, com asas e imaginação
estão sempre um pelo outro, em perfeita harmonia.
Vamos quebrar a gaiola? Vamos sair por aí?
- Sim, que aqui é pouco.
Menino que bate asas fica sempre mais esperto;
passarinho que não voa, arrisca-se a tropeçar.
Por que tanto tombo? Pra onde está me levando?
- Já te trouxe onde queria.
O menino já tem bico e o passarinho cabelos;
não se consegue mais distinguí-los.
Onde está minha bicicleta? E o meu alpiste, cadê?
- Você já está aprendendo.
A figura é um tanto confusa, e sempre faltarão complementos;
a busca da perfeição é um caminho sem fim.
Vamos achar um amigo? Que tal brincar de crescer?
- A felicidade está debaixo de nossas asas.
O menino se acalma com o próprio canto;
dorme o sono sincero e vive o sonho da verdade.
- Ssshhh! Silêncio aí, você que está chegando! Não nos assuste!
Apresente-se ao nosso ninho, que está
na imaginação do menino;
nas asas do passarinho;
no EU nosso de cada dia.

Ônibus - 26/02/86

Faróis na estrada,
longa e imaginária
Norte e sul espetando meu coração
No rosto, um sorriso
pelo molhado do beijo
Na mente a vontade
do amanhã
No pulmão o ar
da esperança
Os pés
no apoio do ônibus
que demora...
pra caralho...

Misturelíndias - 05/06/87

Afongretínica
Smalerígmuns
Acomprinágenas
Bescandilórinos
Explanvernéctia
Caleidoscópio!
Ass: Numerálgico Temporínico, propoxnético aplicadinho

Caminhada do protesto - 01/06/87

Caminhar só é caminhar com todo mundo. Ninguém parece ver, mas viver é muito solitário. E a diletante causa da vida, quando se tem, é reativante e faz cantar.
A diferença entre claro e escuro não está só na luz. Ser é lutar pelo que se é. Saber não adianta, e cada um usa as armas que tem. Vivo sobre meus ideais, pensamentos, sentimentos e desejos.
Sensibilidade é minha arma, que atira contra mim.
Protesto! E ninguém me ouve. O que penso e faço, falo e sinto, só tem valor pra mim.

Grafoterapia - 27/04/87

A noite dorme, mas fico pensando. Planos no lugar de carneiros. Sinto-me disforme e mendigando, conforme nosso amor já combinamos.
Faço o que quero contigo, onde sinto que tenho espaço. Faço! Amigo e também o cabaço, da cabeça, com a idéia que traço e do inimigo que me queira surgir.
Escrever é falar para sempre.

Pensorina - 04/06/87

Pensar somente na rima
onde a liberdade abunda,
é afagar a própria crina
sem passar de boca imunda.
Não se pode fugir do assunto,
nem divagar sobre o mesmo.
E até falando em defunto,
lance vida em cada texto.
Deve haver boa fluência,
e a métrica não é tão importante;
preciso é firmeza e coerência,
e musicalidade a todo instante.
Por fim, o vocabulário;
é preciso enriquecê-lo.
Ler bastante é necessário,
pra rimar água com gêlo.
Ass: Jambundon, le traquine

Metamorfose - 13/08/88

Balão certa vez, passando sobre a calmaria do alto-mar avistou um barco e disse:
- Ei, barco! Como é ficar preso à maré? Você não tem vontade de voar?
Barco que estava bem tranqüilo (como todo barco) respondeu:
- Não, balão. Aqui sinto-me bem à vontade. Às vezes tomo a direção que quero, às vezes uma corrente me leva.
- Daqui de onde estou vejo mais que você! - disse o balão.
- Daqui de onde estou vejo melhor que você! - respondeu o barco - você às vezes segue o caminho que quer, ora o vento te leva. Tenho problemas com águas revoltas e você com vendavais; estamos sob o mesmo sol.
- Mas você não tem a impressão de que tenho uma vida melhor e mais livre?
- Não! Você está mais preso que eu porque vê (ou pensa que vê) mais que eu, mas não vive tudo o que vê. Eu não vejo nada e nada quero, porisso tenho tudo, pois faço parte desse nada.
- Você não tem ambição?
- Tenho... continuar sendo um barco, pois já fui um balão.

Eterno - 23/04/87

Não disse por não ser compreendido;
não falei por não ser ouvido.
Se o tempo corrompe, darei o tempo.
Se impaciente o espaço, dou-lhe o momento.
A vida não se toca em falsete.
Do impaciente o espaço toma o tempo,
como a arma de um cadete
e a vida de um detento.
Corrompe, vida minha! Pela palavra.
Que o espaço, pelo tempo me compre
e que deixe na carochinha porta que abra:
a garganta que se calou,
o momento que não tem manta,
o de sempre que não agradou.

Angústia - 17/02/87

Quando mira-se na própria obra,
como no espelho, o criador,
consciência e crítica se cobra.
E que pena! taotalmente em dor.
Julga-se emn cabo de guerra,
julgado como nó emperrante.
Uma mão em cada ponta atando a Terra,
e o mundo todo na cabeça errante.
Esmerilha, ó mundo inteiro,
a obra que lhe é entrgue!
Não te doas do consumo vão.
Descrta com prazer verdadeiro,
embora isso muito se negue,
do desejo de perfeição

Relógio parado - 21/08/83

Meu dia hoje foi pura nostalgia. Como se não bastasse lembrar o passado, praticamente o revivi.
Se é bom ou ruim não sei, mas aconteceu.
Se foi ruim, é porque algo que fiz e me desagradou voltou à memória. Ou algo que fiz e hoje me desagrada, aconteceu.
Se foi bom, é porque achei que deveria ser feito. Ou simplesmente tive a oportunidade de viver e vivi.
O importante foi sacar que se o mingau de ontem não acabou, já está azedo. O negócio é fazer mingau todo dia!

Motorista - 27/09/84

Por favor, sr. motorista. Tente entender que não somos o motivo real de sua ira. Quando o pedestre dá uma mancada, tente perdoá-lo. Por favor tente desculpar o passageiro que comete um engano. Não xingue de viado o passageiro que se distraiu, e não estava estacionado nos degraus, naquele ponto em que desceria três quadras atrás.
Por favor, sr. motorista, tente entender que não há prazer em viajar pendurado na porta. Não somos os criadores dos horários que temos de cumprir. Por favor não nos esmague na porta.
Ontem a noite, naquele ponto cheio de goteiras, onde o sr. não parou, eu não estava acenando com tchauzinho. Eu estava dando sinal para embarcar, seu filho da puta!

Sabiá - 27/10/84

Sabiá pousou com beleza,
leveza e precisão.
Pousou sem notar minha presença.
Talvez, não. Com certeza
fiz parte da natureza
no momento solidão.

Transcender - 19/10/84

Continuo olhando com simpatia os obstáculos a mim apresentados. Gosto de atravessar desfiladeiros pelas pontes que eu mesmo construo.
Sinto muito por todos, pelas minhas fases egocêntricas. São tão inconstantes quanto inconseqüentes.
Mas apenas sinto muito, pois não vou mudar meu jeito de ser.
Que o transcendentalismo da palavra leve, que nos chega como uma folha seca ao chão, mescle-se ao nosso pensamento - pesado do que é transcendental.

Lugares - 06/08/83

Pelos lugares que já passei
mil amizades fiz
Nas cidades em que morei
Nem tudo que tive eu quis.
Nem tudo que quis eu tive
mas sei que a vida é assim
É atrás de aprender que se vive
por mais que pareça ruim

Beijo no céu da boca - 11/06/87

Beijar o céu da boca é espetar a consciência numa estrela de mil pontas, cada ponta com um motivo pra beijar.
Beijar o céu da boca não é despir-se nem baixar o véu, mas pode ser... inconseqüentemente, ou na medida exata do racional.
Um beijo no céu da boca não é mais que um beijo, nem menor que o céu. É a expressão de um sentimento astronômico, sem muito estudo da sua lógica, mas perfeito.

Nada - 06/07/87

Não querer fazer nada não é ser nada. O que fazemos sem querer nem sempre é tudo. Querer fazer
e não poder, também pode não ser nada.
Mas o tudo, do nada que se faz, pode ser um caminho de realização.
Cuide para que o nada não se transforme em desejo e vice-versa.
Cuidado para não realizar mentiras, porque são desejos. E vice-versa.
Ass: Pessedê Duscu

Menina que passou - 07/03/92

Da menina que vi de branco e que não era tão branca quanto sua voz que não ouvi, não pude sentir
o cheiro, senão de várias marcas de cigarro.
A voz que não ouvi não doeu mais que a cor dos olhos que não senti, de nenhum olhar perdido.
Mas ao ver o ronronante levantar de queixo, cúmplice do "nariz de ver meu cheiro", pensei sentir o
bar cheio de nada à minha volta, sem a ânsia do fim e sem a preocupação do começo.

O poeta - 17/09/84

Quando fala de si, nem sempre mente
Quando chora por si, nem sempre sente
Quando mente, pode ser verdade
Quando sente, pode ser liberdade
Sem amor é espécie rara
Quando dor é alma clara
É o final do funil
que sempre termina no nada
É o vácuo e o vazio
de uma garganta calada
Mistura dor e magia
Transforma dor em alegria
Fere sem querer
Chora mas tenta ser
Alegria, loucura e amor

Páteo da escola - 30/09/86

O tempo passa e as andorinhas voam,
o pensamento voa e o relógio bate.
Pipoca, refrigerante e chocolate.
No recreio os alunos entoam
ideais, idéias e luta.

Caminho - 30/09/86

Gente indo
de encontro a fracassos e sucessos
Gente voltando
de um lugar não achado
Gente perdida
por não persistir e desanimar
Gente parada
por ser mais fácil
Gente. Muita gente.
Uns não tem nada com a história,
outros a fazem.

Cheirinho - 12/05/85

Mais que o total de uma soma sou - como todos são - o quociente de uma divisão onde, a despeito do desejo, cheiro o gastronomicamente fétido e involuntário peido, emitido por reações quimicamente arrevesadas por uma dieta massificadamente irregular

Cumprimento - 02/12/85

- Oi, tudo bem?
- Tudo ... (mas se não estiver você não fará nada. Aliás, estou sentindo a dor do murro que não dei; estou indo justamente ao banco pagar a prestação do toca-fitas que me roubaram; só posso tocar violão no fim de semana; a vitrola tá sem agulha; estou consciente da minha condição financeira, esperando o resultado da loto; hoje é segunda-feira; estou sem namorada há um mês; sinto saudades de uma montanha de pessoas; tô com dor de barriga; meu sábio avô morreu; estou consciente, mas digo mecânica e inconscientemente que está)...
- ... tudo bem!

Felicidade - Dez/85

A felicidade, mãe do sorriso,
brota das pequenas e simples coisas da vida,
cresce de mãos dadas com o amor, no coração dos justos,
floresce no tempo em que não está sendo procurada,
não se sabe nunca quando colhê-la.

Rainbow - 10/05/87

Propaganda é a alma do negócio, mas assim já é demais! Que a gazela fosse uma gansinha no cio, tudo bem. Mas que a música fosse de brinco, aí é foda! É difícil entender.
Não sou mais ego que ninguém, mas sou melhor ouvinte que a maioria dos sons é legislante.
Talvez eu fique deserto, mas pode ser que eu seja o camelo de cada um; se hoje não tenho tudo, não será amanhã que terei nada.
Se estivesse coerente de causa, estaria de bem com o som. Minha orelha desafinou com a laranja do Sr. Asiocan. Tomara que eu não me sinta de coisa; tomara que possa amar de corpo.

Bebum - 03/10/84

Um brinde à natureza;
ela sabe fazer viver.
Quero agora elogiá-la,
pelo que nos deu pra beber.
Um brinde à natureza;
ela sabe fazer sorrir.
Quero agora elogiá-la,
pelo que nos deu pra sentir.
Obrigado natureza!
Você é muito bacana,
pois nos dá sem cobrar nada,
a uva, a cevada e a cana.

Dia e noite - 24/03/86

Quando é dia, brinco com a luz do sol.
Quando é noite mergulho na beleza do céu, carregado pelos belos pensamentos que por lá vagueiam.
Quando é sol, a matéria prima.
Quando é lua, os pensamentos voam.
Sol, dó lá daqueles que não falam.
Lua, piedade daqueles que não ouvem.

Prosaproblema-social - 15/09/85

O gosto da sociedade nos por numa camisa-de-força e nos internar em seus porões, pra bater
catão-de-ponto e cuidar da maconhice. Mas a caretice é uma boa, pra pagar as prestações e trocar uma
idéia com ela, que não entende nossa idéia.

Querido gatinho - 24/04/90

Voa, voa bem alto, meu gatinho.
Mostra pra todo mundo que um gato não tem medo de altura.
Joga fora seu guarda-chuva, porque choveu mas o sol já brilha.
Fica calado e desce cagando, pra eu rir até chorar.
Seja arisco ao comer, mas não me estranhe, senão quebro suas quatro patas, corto seu rabo e arranco seu couro.
E já que sou tão inteligente, me dá seu guarda-chuva pra eu comer.

Ponte - 80's

Entre o desejo e o fracasso,
a ponte do trabalho é sempre firme.
Entre o desejo e o sucesso,
a estrada é sempre seca.
A sociedade cria estradas
e a vontade constrói pontes.

Vírgula - 24/06/86

Entre pratos e a noite entre casais, lá onde caetanismo morava, eis o lugar! Ninguém deve nada a ninguém... mas a ansiedade pode atrapalhar a frágil mente humana, no inóspito e carente corpo.
Não sabem por aí o que penso, mas a vírgula fez o tempo da poesia, seduzindo... e nem sei bem porque. Mas precisei de uma vírgula e ganhei uma.
Se a comprasse não teria graça, para seu valor não haveria dinheiro.
Ass: A. Ghramat Cado

Arte e Educação - 2° sem/87

Se levarmos em conta que educação é formação; se a entendermos por ítens construtores do caráter, não nos será difícil concordar que está intimamente ligada com as artes.
As artes são fator primordial de uma cultura, indispensável à educação. Fazem e registram a história, tanto através da música e do teatro, quanto da pintura e da literatura, entre outras.
A necessidade das artes na educação faz sentir-se cada vez maior, na proporção em que aumentam as pressões em nosso ritmo de vida - porque no seu exercer, modela a cultura e modera o espírito.
Dedicar-se a uma arte é dedicar-se a si mesmo; é conhecer-se melhor, conquistando o "eu" desejável numa boa educação.

Querer é poder? - 13/09/87

Não tenho medo de conseguir, mas antes do querer;
querendo, consigo... sem o medo nem antes, apenas a medida exata do existencial.
Epa! Passo a perna no pensar, sem discutir;
Discuto sem pensar, tomando rasteira.
Apoio-me na queda da razão do medo;
escalo (sem derrubar) o querer,
apesar de conseguir.

Plena prosa - 11/09/87

Pena não ser uma ave e ter muitas penas.
Pena não ter a pena a cumprir: racionalidade ameaçadoramente em desenvolvimento, rompedora
cafajeste da imaginação.
Pena que a prosa tenha uma pena a cumprir e sentir: tem pena de mim e me deixa tocá-la, me dá
uma sentença e se afasta.
Ó minha pena, é uma pena que a dor te propulsione, e que a transformação evolutiva do pensamento
devore sentimentos e razões.

Onça na roça - 13/03/87

Acordei cedo e fui pra roça. Peguei a marmita, a enxada, e fui à terra.
O sol já ia pelas dez, quando um bando de bico-de-lacre pousou na cerca. Passei o ante-braço na testa, admirando. Foi então que a onça rosnou no caminho que vem da cachoeira. Assustado, saí correndo e largando um tanto de mato por capinar.
Enquanto saía do roçado, dei de cara com o espantalho bloqueando minha passagem, como se estivesse me cercando.

O poeta - 80's

Espera com paciência pela sabedoria
Dorme coração e acorda braço
Pensa estrela e anda lua
Faz rascunhos e ama bocas
Procura o simples e ama a natureza
Impressiona-se e não se abate
É livre e procura a liberdade
Sente-se amigo mas se apaixona
Canta, brinca e é criança
Escreve, ama e é um homem

Tramela - 80's

Isso mesmo! Abra a janela e descubra assustada que já é noite. Faça um aviãozinho com a poesia que fiz pra você, enquanto era um elo da sua corrente (que sua imaginação quebrou).
É daquele beijo que tantas vezes imaginei que sinto saudades. Porisso feche a janela e sonhe. Sonhe com o que quiser, mas com a intensidade das minhas lágrimas.

Urbano - 19/04/86

Minha cidade está na copa desta árvore, de onde posso ver as estrelas.
Suas ruas são boas, porque estão sempre se renovando. Em outras cidades os vidros não caem no outono, e os prédio só ficam velhos.
Um dia os "homens que usam saco de lixo como travesseiro em cama de papelão" serão os pássaros da "cidade que quer um relógio e um suborno".

Volta de viagem - 13/03/87

Ver, sentir, estar, ser!
Pontuações em Arcos, cerveja em São Paulo!
Trabalho e pensamento; nestas horas repôlho é um doce.
E a chuva? - Deixa cair. E a expressão, deixa fluir e molhar os pés.

Leão - 80's

Vejo tudo de onde quer que esteja.
Passeio na mercedinha que vi da janela do ônibus e quero ver outra vez aquela moça passeando em frente a vitrine. Espero encontrar aquela morena que me beija no canto da boca.
Anseio por um abraço amigo. Penso na complexidade da cabeça das pessoas. Algo me diz que não tenho tempo. A música põe um sorriso nas minhas expressões, a saudade o rouba. Meu coração tomou pauladas, e sei que outras virão. A abstração me deixa entender tudo isto, mas não posso fazer nada.
Raptaram meu gênio e estão pedindo um resgate muito alto.
O medo tem tamanho de leão e o amor parece um gatinho. Como qualquer animal, as pessoas têm medo do domador, mas precisam tomar leite; querem amar mas têm medo.
Medo também tem medo de que o gatinho cresça e devore o leão.

Estilo - 80's

O pensamento que deixo nas cordas do violão não é menor que suas marcas. Talvez me falte habilidade para conviver com isto, e seria injusto viver numa forma de linguagem.
Assim como a poesia é um estilo de vida, a busca do estilo é o exercício da arte.

Fixação - 20/10/87

A fixação. Será que tá certo?
Há fixação. Será que estou certo?
Por que ponho tantas interrogações onde quero exclamar? Ah! Vida! Eu sou fogo!
Estão combatendo fogo com fogo. Justamente de quem esperava apoio, ou no mínimo compreensão, é a quem tenho constantemente de me explicar. Será que as pessoas não têm sensibilidade o suficiente para entender situações? e pessoas? e fatos?
Tudo tem um porquê psicológico tão simples pra mim que não tenho argumentos para fazê-las entender...estas pessoas que se entregam a um sistema, quebrando outro...prioritário(?)
Estou muito confuso e inseguro, perdendo o conceito de família:
- que me cospe na cara o desemprego;
- que grita em côro nos meus ouvidos, esmurrando a porta: Vagabundo! Vagabundo!
- que nem de longe imagina minha situação e porisso inverte o sentido da vítima e do réu.
- que não acredita no meu trabalho.
- que tem este trabalho como acobertador de vadios.
- que não acredita em minha capacidade.
- que não confia em mim!
Me sinto só no mundo, e não queria me valer de formas apelativas para me livrar de situaçõezinhas como a que estou atravessando agora. Mas não têm me restado muitas alternativas. A pressão que existe normalmente na minha vida, e as dificuldades que tenho de enfrentar parecem ser pequenas na visão da minha família, que torna ainda mais penosa a minha jornada. Tem uma capacidade reduzida de solucionar
problemas e dar sugestões, por terem uma visão unilateral das questões.
Então me sufocam com palpites e agridem com críticas humilhantes.
Não desejo isto a ninguém. De coração, não desejo isto a ninguém - é muito triste.
Se eu tiver de abandonar meu curso (que já não está sendo bem aproveitado por falta de tranqüilidade emocional), abandonarei logo tudo. Inclusive a família, que a isto me encaminha.
Aí não interessa onde vou estar. Uma pessoa solitária não sente diferença entre seu país e outro qualquer; entre a partitura, as letras e a cadeia.
Vou registrar novamente um fato: o que faço, penso e sinto só tem valor pra mim mesmo.
O que faço, penso e sinto é só o que tem valor pra mim, graças ao descrédito alcançado entre quem mais tentei despertar credibilidade.
Estão tentando me transformar numa pessoa dura, triste, desmotivada, insegura.
Ah...fixação!
Eu vou conseguir!
Vou vencer! Tudo e todos.
Mesmo que custe tudo o que já consegui, e todos os seres doentes de capitalismo.

Que metáfora é essa? - 27/03/89

O coelho falou que o velho gordo está fora da temporada e do calendário comercial. Porisso não rasguei a bússola, com ódio do papel e sem coragem de andar.
Não fiquei sabendo se do outro lado do rio tem um gramado verdinho e macio, cheio de frutas gostosas pra encher a barriga do cérebro, e nem sei como está a maré do lado de cá.
Ganhei uma fruta da mão do amigo do dinheiro, que está cheia de bicho e vai dar dor de cabeça em quem comer...comi, engasguei e agora tenho de andar e andar e andar, onde tem muita areia... e meu coração está cheio e minha cabeça tá com um tumor de fruta podre, que só cura se eu atravessar o rio.
Vou fazer uma canoa com o músculo que não para e beber muita água do rio, que se não piorar, vai ajudar na travessia.
Certa montanha de saudade está perdendo altitude, porque minha canoa está com seu projeto em andamento e assim que estiver concluída não vou ter de comer fruta podre, e vou poder cantar e sorrir sem apertar a mão do carrasco do rio.
O lado de cá eu já conheço, e é só morte cerebral pra todo canto, com canoas furadas e que as pessoas não vêem e tentam usá-las para atravessar. Quem atravessa assim fica amigo do carrasco do rio e tem de pagar um pedágio muito alto, com o músculo que não para.
Vou construir minha própria canoa e não vou pagar imposto; vou atravessar o rio e soltar um remo que não presta no cu do carrasco do rio, pois ele bóia com a bunda pra cima e vive comendo canoas que afundam. Depois é só cantar e sorrir, porque quando se coloca um remo no cu do carrasco do rio ele não come sua canoa, nem persegue você na margem. E eu preciso atravessar.
Esta parte do rio é muito funda e as margens são muito distantes uma da outra. Se eu ficar tentando achar a melhor parte para atravessar, o cachorro do carrasco do rio vem atrás e mastiga meu cérebro. Até hoje ele não conseguiu porque quando chega perto eu pego a caneta e risco os olhos dele e pego o violão e bato com toda força no seu saco. Aí ele fica chorando, e dizendo que vai me pegar da próxima vez. Eu
mando ele se foder e cuspo no rio.
O filho da puta do coelho nunca vai ser mais rápido que eu, nem vai conseguir trazer o cachorro para me pegar. Nunca dou atenção ao que o coelho fala, mas o cachorro sim... e o carrasco do rio está só esperando eu comer mais frutas podres para me afundar... meu cérebro está com fome e meu coração
está pronto. Só o relógio não está pronto; nunca esteve.
E essa porra de coelho grita alto pra caralho e já fez a cabeça do cachorro, que só se fode na vida e quer empurrar os outros pra água, pro seu dono, o carrasco do rio, comer o cérebro. Mas eu não...
Minha canoa vai ser forte e eu vou atravessar. Também, se não atravessar, prometo que vou fazer mais barulho que o coelho e matar o cachorro.
Ass: Orla Fluvial

Quase um niilista - 90's

Novamente o exercício do intelecto me rouba o sono. Outra vez, mais uma hora de redemoinhados pensamentos me afligem.
Trago desta vez ao papel o testemunho de uma vida injustiçada, ao mesmo tempo em que torno divina a minha peleja.
Não que eu queira me apresentar como homem de vida exemplar, apesar de ter um coração de bondade; não que eu queira atirar contra Deus a tribulações a mim conferidas. Na verdade, da mesma maneira que converto em lágrimas a saudade, carrego as cicatrizes deixadas em meu viver por pessoas e fatos tão simples quanto eu mesmo. Além disso, que sabedoria há numa acusação de torturas dirigida ao
carrasco? Como poderia eu ser absolvido por um crime não cometido, se meu advogado me sentencia; meu intercessor é meu algoz?
Não sou o pessimista que quer seu fim na sabedoria mas, apesar do aumento de conhecimento trazer uma percepção mais nítida do sofrimento, não quero paralizar meu cérebro. Quero ter o olhar erguido pela consciência de que minhas atitudes e pensamentos não são compreendidos ou aceitos com
facilidade. Só assim justifica-se meu orgulho.
Devo dizer ainda que o tempo não é inimigo da história, mas soma-se a ela. E só no futuro se poderá entender uma existência. Aí será tarde para julgá-la, mais ainda para condená-la.
Não peço a Deus que tire dos meus olhos e dos meus pés a conturbada estrada a seguir, nem que remova as pedras que Ele não pôs. Porque Deus não promove coisas ruins nem ao bom nem ao mau. O diabo faz isso! Se Deus, além do diabo, mandasse castigos, que vantagem teríamos em sermos filhos
d'Ele?
Só peço, isto sim, que me ajude na caminhada. Pois tenho ciência da minha insignificância. Sei que um homem é como o barro, que pode ser moldado, mas que luz e o calor do saber podem torná-lo duro e pronto para a edificação.
O que quero para esta vida é ser um bom tijolo que sirva para a construção segura da "casa" do meu filho e para o filho dele e aos outros que vierem depois... E que meu coração não seja de barro.

Manda bem o Tio Telles!!! Escreva para ranierdecastro@ig.com.br!!!


Seção Poemas - Paulo Leminski

Abrindo um antigo caderno
foi que eu descobri:
Antigamente eu era eterno.

Tarde de vento.
Até as árvores
querem vir para dentro.

SE

se
nem
for
terra
se
trans
for
mar

A noite me pinga

uma estrela no olho
e passa.

INCENSO FOSSE MÚSICA

isso de querer ser
exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além

nunca cometo o mesmo erro

duas vezes
cometo duas três
quatro cinco seis
até esse erro aprender
que o erro tem vez

AMOR BASTANTE

quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num instante

basta um instante
e você tem amor bastante

um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto

PARADA CARDÍACA

Essa minha secura
essa falta de sentimento
não tem ninguém que segure,
vem de dentro.

Vem da zona escura
donde vem o que sinto.
Sinto muito,
sentir é muito lento.

ATRASO PONTUAL

Ontens e hojes, amores e ódio,
adianta consultar o relogio?
Nada poderia ter sido feito,
a não ser o tempo em que foi lógico.
Ninguém nunca chegou atrasado.
Bençãos e desgraças
vem sempre no horário.
Tudo o mais é plágio.
Acaso é este encontro
entre tempo e espaço
mais do que um sonho que eu conto
ou mais um poema que faço?

DESENCONTRÁRIOS

Mandei a palavra rimar,
ela não me obedeceu.
Falou em mar, em céu, em rosa,
em grego, em silêncio, em prosa.
Parecia fora de si,
a sílaba silenciosa.

Mandei a frase sonhar,
e ela se foi num labirinto.
Fazer poesia, eu sinto, apenas isso.
Dar ordens a um exército,
para conquistar um império extinto.

RAZÃO DE SER

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que .
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

Amor, então,
também, acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima.
 
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